Na saúde, a doença existe independentemente da classe social.
O enfrentamento desse quadro, no entanto, é diferente em cada
camada.
As exigências, expectativas e infraestrutura são próprias de cada
estrato social.
O PRB tem como princípio norteador fazer políticas de Saúde
Pública ser a expressão da sociedade e representarem os interesses gerais da
população. Está implícito nessa forma de atuação política que, a partir de uma
constatação formal das demandas sociais, o enfrentamento se dará de forma
realística, com o Poder Público assumindo seu papel de “governo” ao propor que
as soluções possam equacionar os interesses de todos os participantes do
processo político. Para tanto, o planejamento é pautado pelos princípios
fundamentais da democracia brasileira, sempre tendo em mente o desafio de
administrar de forma competente e satisfatória a combinação de conhecimento
estratégico e técnico da realidade, as demandas sociais e a determinação
política para tomada de decisões que sejam capazes de reverter desigualdade e
privações em saúde.
Ao propor Políticas Públicas de Saúde, compreendemos que as
sociedades têm suas regras e características que lhes são próprias. Por esse
motivo as alterações ou ajustes nos sistemas administrativos devem estar em
conformidade com a sociedade onde a demanda se apresente, dando contornos
próprios que respeitam a cultura local. A expressão do poder público em suas
políticas de governo sempre deverá dar respostas à sociedade em um sistema de fluxo
permanente que tenha valores e filosofias, levando-se em consideração as
contradições existentes.
As políticas sociais em saúde se referem a todas as ações que
determinam um padrão de proteção à saúde da população a serem implementadas
pelo Estado na busca incessante da diminuição das desigualdades produzidas pelo
desenvolvimento socioeconômico. Nessa perspectiva o desenvolvimento da saúde
está intimamente ligado às condições sociais, na medida em que toda sociedade
contemporânea está composta por organizações socioeconômicas que acabam
determinando o modo de vida dos humanos em suas especificidades presentes em
cada grupo social.
Além da simples ausência ou constatação de doenças, a saúde - ao
ser entendida como bem estar físico psíquico e social - pressupõe uma
determinada maneira de sentir. Dessa forma, o objetivo a ser atingido como bem
estar é que a população tenha direito a habitação, segurança, educação,
trabalho e condições para o trabalho, saneamento, vestimentas, água,
alimentação e informações sobre como transformar o mundo em que vivem. É
necessário oferecer meios que permitam uma vida digna em um sistema político
que respeite a livre opinião, a livre possibilidade de organização e que não
esteja submetido ao medo e à violência de qualquer espécie.
No modelo de atenção adotado pelo PRB, os
serviços de prevenção e promoção da saúde têm prioridade. Busca-se integrar os
vários saberes em saúde, como Odontologia, Serviço Social, Psicologia,
Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, entre outros. Podem ser incluídas diversas
profissões auxiliares, de nível médio no Brasil, como os Agentes Comunitários
de Saúde, função equivalente aos médicos de pés descalços na China.
Essa postura está alinhada às observações da Secretaria da
Comissão de Determinantes Sociais da Saúde da OMS que afirma que “as causas
da maioria das desigualdades de saúde e de grande parte do sofrimento humano
são sociais: os determinantes sociais de saúde”. O PRB está atento a essas
demandas e comprometido a reduzir as desigualdades sociais no sistema público
de saúde brasileiro.
A prática de políticas
públicas em saúde requer conhecimento prévio mínimo da realidade que se
pretende intervir em quaisquer níveis. Desse modo utilizamos a título de
exemplo de um Brasil atual, resultados de pesquisa CNI-IBOPE: RETRATOS DA
SOCIEDADE BRASILEIRA: SAÚDE PÚBLICA janeiro de 2012 , que mostram o nível de
insatisfação da população brasileira com o sistema de assistência à doença
oferecido pelo governo sendo os resultados em relação à Saúde Pública no Brasil
expressos da seguinte maneira :
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• 61% da população brasileira consideram o
serviço público de saúde do País “péssimo”ou “ruim”
• 54% da população brasileira consideram o
serviço público de saúde de sua cidade “péssimo”ou “ruim”
• 85% dos entrevistados não perceberam
avanços no sistema público de saúde do País nos últimos três anos
Em relação ao acesso aos serviços
de saúde, verificaram-se os seguintes resultados:
• 24% da população brasileira possuem plano
de saúde ou convênio
• 68% dos brasileiros têm a rede pública como
único ou principal fornecedor de serviços de saúde
• 91% dos entrevistados que utilizam somente
ou principalmente o serviço privado, possuem plano de saúde ou convênio
• Apenas 1% dos entrevistados que utilizam
somente ou principalmente o serviço público tem plano de saúde ou convênio
Nos últimos doze meses, a
utilização dos serviços de saúde disponíveis revelou que :
• 61% dos
entrevistados utilizaram algum serviço de saúde nos últimos 12 meses
As mulheres (68%)
utilizaram mais os serviços de saúde nos últimos 12 meses que os homens (53%)
• 79% dos entrevistados que utilizaram serviço de saúde
nos últimos 12 meses o fizeram na rede pública
• 79% do último serviço utilizado pelos entrevistados nos
últimos 12 meses foi ambulatorial
• 48% dos brasileiros consideraram o último atendimento
na rede pública de saúde como “ótimo” ou “bom”
• Na rede privada, o percentual dos entrevistados que
consideraram o último atendimento como “ótimo” ou “bom” é 63%.
Em relação à infraestrutura de equipamentos
hospitalares existentes no país, a comparação entre as instituições públicas e
privadas revelam :
• 96% da população brasileira já utilizaram algum serviço
em hospitais públicos ou privados
• 64% da população utilizaram algum serviço de saúde em
hospitais nos últimos 12 meses
• Hospitais públicos obtêm nota média geral de 5,7 e os
hospitais privados de 8,1, em uma escala de 0 a 10
• Profissionais dos hospitais públicos obtêm nota média
geral de 6,3, enquanto os dos hospitais privados de 8,2, em uma escala de 0 a
10
Da população entrevistada, 55% consideram a
demora no atendimento como o principal problema do sistema público de saúde em
sua cidade, e percebem que as ações e políticas para a melhora do sistema
público de saúde no Brasil necessitam de:
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Recursos para a saúde
• 95% dos entrevistados
reconhecem a importância e a necessidade de se destinar mais recursos para a
saúde
• 82% dos brasileiros defendem
que os recursos adicionais podem ser conseguidos se o governo acabar com a
corrupção
• Apenas 4% acreditam que se faz
necessário aumentar os impostos para se conseguir mais recursos para investir
na área da saúde
Políticas e ações
• 57% da população brasileira
consideram o aumento no número de médicos como uma das principais medidas para
melhorar o serviço médico na rede pública
• 95% dos brasileiros concordam,
total ou parcialmente, que o governo tem a obrigação de oferecer serviços de
saúde gratuitos a toda população
• 71% da população brasileira
concordam, total ou parcialmente, que as políticas preventivas são mais
importantes que a construção de hospitais para melhorar a saúde da população
• 63% dos brasileiros concordam,
total ou parcialmente, que a transferência da gestão dos hospitais públicos
para o setor privado melhoraria o atendimento aos pacientes
• 84% dos entrevistados
concordam, total ou parcialmente, que a venda de medicamentos só deve ser
permitida com a apresentação e retenção de receita médica
• 82% da população brasileira
concordam, total ou parcialmente, que o medicamento genérico é tão bom quando o
de “marca”
• 80% dos entrevistados
concordam, total ou parcialmente, que o parto normal é melhor que a cesariana
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Como resultado
geral, podemos perceber que a maioria da população brasileira avalia
negativamente os serviços de saúde no Brasil. Para 61% dos entrevistados a
qualidade do sistema público de saúde do País é “péssima” ou “ruim”. Apenas 10%
consideram a qualidade “ótima” ou “boa”. Entre os entrevistados, 42% não
percebem ou não perceberam mudanças no sistema público de saúde do País e 43%
consideram que piorou. Definitivamente segundo esses dados para 85% da
população brasileira a situação da saúde pública no país não avançou nos
últimos três anos (2012, 2011, 2010).
Diante dessa realidade o PRB Saúde mesmo
considerando o Brasil um país continental com diversidade cultural, climática,
geográfica e populacional, destaca uma característica comum no país: as
famílias brasileiras pagam com recursos financeiros próprios a maior parte das
despesas de saúde no país. Do total gasto em 2007, cerca de 128 bilhões de
reais (57,4%) vieram dos bolsos dos cidadãos, ante 93 bilhões de reais (41,6%)
provenientes do setor público.
Mas se o problema é que tanto o
serviço público quanto o privado desafiam o SUS sistema de saúde único no
Brasil e o fôlego financeiro dos brasileiros, surge uma questão: qual o motivo
desse quadro? Como resposta imediata seria mais fácil admitir que maior entrave
para o funcionamento estaria no atendimento oferecido pelo governo. Mesmo
porque de acordo com levantamento realizado junto a secretarias de saúde em
sete capitais: São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Salvador,
Curitiba e Rio de Janeiro, ao menos 171.600 pessoas estão na fila para realizar
uma cirurgia eletiva que não possui característica de urgência. A demora para a
realização de um procedimento ortopédico, por exemplo, pode levar até cinco
anos.
Acrescenta-se que a qualidade do
serviço também é influenciada pela insatisfação dos profissionais que trabalham
no SUS. De acordo com o Instituto Brasileiro para Estudo e Desenvolvimento do
Setor de Saúde, em média, a remuneração dos profissionais da área pública é
metade da remuneração paga pela rede privada. Em alguns casos a diferença é
exorbitante: uma equipe com seis profissionais recebe R$940,00 do SUS por um
procedimento cirúrgico, enquanto receberia até R$13.000,00 dos planos de saúde
pelo mesmo ato.
A incerteza populacional diante do
acolhimento pelo sistema público de saúde, somado ao quadro caótico da
qualidade de prestação de serviços criou um cenário histórico no qual empurra
os brasileiros e brasileiros a “qualquer custo” manter planos privados, como “promessa”
de acesso ao sistema de saúde e qualidade de atendimento que pode “resolver” a
demanda do doente. Atualmente parece que 26,3% da população (49,1 milhões de pessoas)
compromete parte da renda familiar para não precisar utilizar hospitais
públicos. Desdobra-se
desse cenário uma população que está envelhecendo e com problemas
financeiros para manter as contas em dias na saúde. Por exemplo 70 anos, um
assegurado de planos privado pode ter que desembolsar mais de 700 reais para
manter um plano básico, mas isso só é suficiente para ocupar um leito de enfermaria ao lado
de outros pacientes, em caso de internação.
Medidas políticas precisam ser
tomadas imediatamente para amenizar esse quadro, porque num futuro próximo,
caso mantenha-se a realidade atual, os serviços privados de assistência à
doença estarão praticamente inacessíveis para a quem utiliza o serviço de planos de saúde. De
acordo com estimativas realizadas pelo Idec e pelo Procon, se mantidas as
atuais condições de reajustes das mensalidades dos planos de saúde, nos próximos
30 anos, certamente deverão sofrer reajustes 126,67% acima da inflação medida
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A gestão governamental tentou
através da Agência de Saúde Suplementar – ANS – intervir nesse processo, mas
não obteve êxito desejado por uma razão bastante simples: as operadoras de
saúde são empresas privadas que investem em pesquisas, tecnologia,
infra-estrutura e pessoal. Contraem despesas e, portanto querem honrar suas
contas a cada final de mês. Para tal definem um valor para seus serviços
levando em conta o custo deles e os preços de mercado. E nada indica que
futuras intervenções da ANS obteriam resultado diferente, porque “decretar”
para as empresas privadas o quanto elas devem cobrar pelos serviços no mínimo é
não admitir a realidade.
O PRB Saúde preconiza em todas as
esferas sociais a importância da discussão acerca do sistema público de saúde e
seu maior ganho social : o SUS - alimentado com o dinheiro dos tributos dos
contribuintes e pode dar a impressão de certo descompromisso na oferta de
serviços assistências e preventivos em saúde no país.
Resultado de movimentos do meio
acadêmico, da sociedade civil organizada e os esforços de Sanitaristas, o SUS,
foi criado pela Constituição Federal de
1988 e regulamentado dois anos depois, pelas leis 8.080 e 8.142 , sendo um dos
maiores sistemas de Saúde do mundo e talvez o único a se propor universal em um
país com mais de 100 milhões de habitantes. Inegável que tivemos conquistas e
avanços no sistema que nem sempre podem ser percebido até por quem o usa, mas o
propósito do SUS ainda está incompleto e muito longe de ser atingido por
algumas razões nem tão simples:subfinanciamento da Saúde; indefinição de
responsabilidades entre as instâncias federal, estadual e municipal; saúde
entendida como bem de consumo e não como direito de todos; lógica
hospitalocêntrica (conceito de saúde centrada na assistência médica, e não a
visão social ampliada de saúde e na seguridade social). A não equalização
desses elementos faz com que os pilares do SUS — universalidade, integralidade
e equidade - sejam abalados.
Uma profunda transformação é urgente
na gestão do sistema de saúde no país, no sentido de se repensar o controle
social. É preciso parar de desvirtuar os princípios do SUS e somente improvisar
soluções com terceirizações e privatizações, em vez de se discutir uma
estrutura organizacional para o SUS. Caso isso se perpetue, o modelo de saúde
prestado pelo governo tende a parar de funcionar, gerando uma contradição
porque o Estado é o responsável pela formulação e pela execução das políticas
em Saúde Pública.
Mesmo que a opinião pública seja em sua maioria contrária ao
SUS e a população responsabilize-o pelas lacunas encontradas nas políticas de saúde
no Brasil, a falta de consolidação ideológica popular, bem como a política do
sistema são desafios importantes a serem enfrentados pelo PRB. Não percebemos claramente do ponto de vista
político e histórico que algum governo ou sigla política tenha assumido
publicamente o compromisso da concretização do SUS como principal plataforma
como estamos fazendo. Para o PRB Saúde, o Sistema único de Saúde somente será efetivado plenamente quando
atingirmos um “Estado forte”, como foi atingido no setor econômico. A lógica é
que quando o SUS melhorar, o setor privado melhore junto, sem monopólios
privados em medicamentos, insumos e serviços.
Somos contra as más políticas
gestoras que impeçam a consolidação do Sistema Único de Saúde.
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